Bem Vindo

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Professor primário cria rede varejista de R$ 800 milhões

“O sapo não pula por boniteza, mas porém, por precisão”, escreveu Guimarães Rosa em “Sagarana”. Zefiro Giassi, criador da rede varejista catarinense Giassi, que deverá faturar R$ 800 milhões em 2011, conhece a frase como poucos e não apenas por ser professor.
Foi por precisão – três, de seus cinco filhos, já eram nascidos, quando ele resolveu deixar de lado o salário de professor e abrir um mercado, nos idos de 1960. Foi também por necessidade – um acidente doméstico que o deixou cego de um olho – que ele se tornou o primeiro de sua família a concluir o magistério, já que não podia com a lida do campo.
Foto: Álbum de família
O então professor Giassi, de terno: um acidente com um facão de cana o afastou da lida no campo e fez com que se tornasse o primeiro da família a concluir os estudos
Nascido em Içara, no sul de Santa Catarina, Giassi tinha três anos quando um primo que cortava cana de açúcar ergueu demais o braço e atingiu o olho esquerdo de Zefiro. A tragédia e a marca que o acompanham ao longo da vida poderiam ser motivo de desânimo, mas acabaram reescrevendo o destino do garoto. Como não podia acompanhar a carreira rural da família, Zefiro foi encaminhado aos estudos. Deveria se tornar professor, trabalhar em lugar fechado, sem pegar sol e longe da rotina extenuante do sítio. Assim, pouparia a única vista boa.
“Naquele tempo e naquela região, ou se era agricultor ou se era professor”, diz ele. “Não havia outras oportunidades.”
Aos oito anos, percorria cinco quilômetros para chegar à Escola da Quarta Linha Sangão, de ensino público e estadual. Cavalo, só quando estava doente. Foi na escola que o neto de italianos começou a dominar o português com mais habilidade. O italiano foi sua primeira língua.
Responsável por levar os ovos e queijos produzidos pela família a serem vendidos no centro da cidade a cada 15 dias, Zefiro mostrou de jovem que já tinha espírito empreendedor. Colhia pimentas, cultivadas em casa, e fazia conservas caprichadas. Esse dinheiro ficava em seu bolso.
Foto: Arquivo pessoal Ampliar
Zefiro Giassi: “Ninguém faz milagre. Tem de se especializar na qualidade, no produto e no atendimento. A gente se atualiza na exigência do povo.”
“Eu acredito que todos têm um dom ao nascer”, afirma. “Certamente, surgiu em mim alguns sinais de vocação do comércio e eu sempre botei isso em prática.”
Aos 14 anos, o pai Ângelo encontrou um jeito de matriculá-lo no colégio Dom Daniel Hostin, em Forquilhinha. Foi o primeiro Giassi e seguir com os estudos. Zefiro era o quarto, de sete irmãos. Até então, todos haviam estudado apenas o primário. O desafio, agora, não era mais a distância, mas pagar a escola. A solução: trabalho. Zefiro pernoitava na casa dos padres, badalava os sinos, alimentava os animais e dirigia charretes. Com o trabalho, ganhava uma espécie de bolsa de estudo e também de alimentação.
No ano seguinte, iniciou os estudos no conceituado Grupo Escolar Lapagesse, em Criciúma. Fez a quinta série e emendou o Curso Normal Regional, o equivalente ao magistério. Aos 18 anos, pegou o diploma. O primeiro emprego foi em Morro Bonito, na mesma escola onde a irmã Alzira (que estudara até o quarto ano do primário) lecionava até trocar de emprego pelo casamento.
“Já trabalhava lá sempre que a minha irmã precisava de um substituto”, diz. “Quando abriu a vaga, o convite para ocupar o lugar veio para mim.”
Zefiro cuidava das turmas da primeira a terceira série, simultaneamente. Em 1955, casou com Ana Maria Zilly Giassi, com quem teve cinco filhos. Foi por causa da família que o magistério se tornou inviável. “Tinha três filhos na época e era muito difícil de sustentá-los”, afirma. “A gente conseguia viver graças a muitos pais de alunos que nos davam presentes, como alimentos.”
Na busca por alternativas, o comércio pareceu o caminho mais fácil. Seus pais, no entanto, lembraram os inúmeros comerciantes falidos e endividados na cidade. Mesmo assim, Zefiro montou uma sociedade com o amigo Benevenuto Fiorindo Dal Molin. O sócio tinha acabado de vender um terreno por 175 mil cruzeiros e Zefiro, depois de muita insistência, conseguiu um empréstimo com o pai e dois amigos para dar o ponta pé inicial na sociedade.
A loja foi inaugurada em 1960, em uma sala de quatro metros por nove metros, próxima à praça São Donato, em Içara. Zefiro havia pedido licença sem vencimentos do magistério - profissão para a qual nunca mais retornaria. No início, a loja vendia ferragens e tecidos. Porém, numa de suas andanças por São Paulo e Rio de Janeiro, Zefiro percebeu um mercado emergente e vigoroso: o autosserviço.
“Vimos que esse sistema era o futuro e já estava bem forte em outros lugares”, diz. “Como quem sai na frente, sai ganhando, senti que deveríamos nos tornar pioneiros em autosserviço aqui na nossa região.”
A primeira loja de autosserviço, ou supermercado, com o nome Giassi foi inaugurada em 1970. No início, os consumidores entravam desconfiados, sem saber exatamente como pegar os produtos e pagar por eles. Naquele tempo, a população estava acostumada a pedir o que queria no balcão dos armazéns, anotar o valor no papel e pagar no fim do mês. Pouco a pouco, as pessoas se adaptaram à novidade e viraram frequentadoras assíduas do estabelecimento.
Foto: Divulgação Ampliar
Depósito e administração central do Giassi: pioneiro no autosserviço em Santa Catarina
“O caminho do ramo varejista de autosserviço no Brasil e em especial Santa Catarina foi de crescimento gradativo”, afirma o consultor Ivam Michaltchuk. “No início, houve as naturais resistências a mudanças, mas a conveniência, a qualidade e a persistência foram mais fortes e os catarinenses acabaram absorvendo esta forma de fazer compras.”
Em 1987, a sociedade foi desfeita. Zefiro se concentrou apenas no supermercado. À época, os desafios dos varejistas eram grandes. O Brasil vivia a hiperinflação e as maquininhas de etiquetagem trabalhavam freneticamente.
“A gente tinha de saber o preço dos produtos na indústria diariamente”, diz Zefiro. “Não podíamos vender muito porque poderíamos ficar sem dinheiro para novas compras.”
Zefiro resolveu agir com cautela. Evitava a todo o custo emprestar, para não pagar juros e ficar nas mãos de bancos. “Seu bom senso, aliado ao grande diferencial de apostar no desenvolvimento dos talentos humanos são sua grande marca. Prova disso é que muitos de seus gestores estratégicos estão na empresa há mais de 30 anos”, afirma o consultor Michaltchuk.
Foto: Divulgação
Loja Giassi em Joinville: rede abrirá 12a. loja no próximo ano
Segundo o empresário, seu conhecimento veio do trabalho, da rotina e das conversas com outros empresários, em muitos congressos.
Hoje, a Giassi tem 11 lojas e a 12ª deverá ser inaugurada em abril. São nove cidades atendidas pela rede, todas no leste de Santa Catarina. Agora, Zefiro se preocupa não apenas para o futuro da empresa, mas principalmente ao seu futuro dentro da empresa. Há cinco anos, deixou de lado a jornada de trabalho que começava às 6 horas e se estendia até às 24 horas, e encerra o expediente por volta das 18 horas. Pouco a pouco, aprende a delegar mais e a trabalhar menos. Para o próximo ano, a ideia é deixar tudo nas mãos dos herdeiros e ficar apenas orientando. “Vou me libertando devagarinho”, diz.

Fonte: IG

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